Era o ano de 1949. Em São Paulo realizava-se o Congresso Eucarístico Nacional, preparatório ao Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro.
Então, exercendo o múnus de Vigário capitular da Diocese de Taubaté, pela renúncia do Exmo. e Revmo. Ordinário, Dom André Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, tomei o trem rápido em Taubaté rumo a São Paulo, para representar como Ordinário Diocesano, minha Diocese, no grande certame de fé e amor.
Assentei-me ao lado de um senhor, que logo travou conversa comigo. Vinha de Niterói, onde morava num dos morros, nas cercanias da cidade. Ia a São Paulo assistir ao Congresso. Era católico de poucos anos, pois convertido do espiritismo. Como? Explicou-me comovido:
– Tive há anos uma filhinha muito doente, já sem fala. Todos os filhos eram pagãos, pois o espiritismo não admite batismo. Pagã, portanto, era a menina doente. Alguém vendo-me desesperado, recomendou-me que fosse ao Colégio Santa Rosa, onde existia um padre santo. Que o convidasse a ir até a casa, benzer a doente. esqueci do meu espiritismo. Fui até o Colégio. Pedi a ida do padre, a quem chamei santo, até minha casa. O Revmo. Diretor compreendeu que se tratava do Pe. Rodolfo. Deu-lhe licença para que me acompanhasse. Levava uma maleta não mão. Não quis me entregar para levá-la. Não aceitou, de forma alguma, o automóvel. Quis informações do lugar, da casa. Iria a pé. E, com o terço entre os dedos, subiu a montanha até a minha casa. Ali disse-me:
– Sua filhinha é pagã, vou batizá-la. O santo Batismo a curará.
De fato, ao terminar a cerimônia do santo Batismo, a menina abriu os olhos, animada. Estava curada. O padre tomando a mala, pediu que fosse ao colégio para ser instruído e deixar o espiritismo. Obedeci. Por alguns dias instrui-me na fé. Fez o mesmo à minha família. Abjuramos o espiritismo e fomos todos batizados. Continuamos, com o divino favor, a praticar a nossa fé católica. O Pe. Rodolfo foi transferido de Niterói. Nunca mais ouvi falar deste santo sacerdote. Quem sabe se não o encontrarei em São Paulo?…
Ouvi a descrição do referido senhor. E percebi o dedo de Deus. O trem caminhava entre a estação de Caçapava e São José dos Campos, justamente a cidade onde morava o Pe. Rodolfo, em tratamento na casa salesiana daquela Estação de curas. Disse-lhe então:
– Deus está nesta conversa. É mais um milagre do Pe. Rodolfo. Saiba, meu senhor, que ele está aqui em São José dos Campos, justamente a primeira cidade onde vai parar nosso trem.
De fato, dali a pouco, estávamos em São José dos Campos. E o companheiro de viagem me disse:
– Vou saltar aqui. Não posso deixar de visitar aquele a quem devo minha conversão e salvação. Como encontrá-lo nesta cidade de São José dos Campos?
– É fácil. Vê aqueles carros de aluguel, ali parados? Vá lá e diga a qualquer daqueles motoristas: “Onde mora aqui o Padre Santo?”. E verá que será levado à casa salesiana, junto de Pe. Rodolfo.
Alegre, perdendo a passagem comprada até São Paulo, meu querido companheiro de viagem saltou do trem, e ainda o vi, de longe, assentado no auto, acenando-me alegremente.
Carta de Mons. João José de Azevedo
(ex-aluno salesiano,
e pároco em Pindamonhangaba-SP, por 50 anos)
Pindamonhangaba, 04/09/1963